EXORCISMO TRIPLICA EM NOSSO MUNDO ENCANTADO

VATICANO, EXORCISTAS E O RETORNO DOS DEMÔNIOS NUM MUNDO ENCANTADO

O padre siciliano e exorcista de longa data Benigno Palilla recentemente disse à Rádio do Vaticano que os pedidos para realização de exorcismos triplicaram nos últimos anos. Existem agora, disse ele, 500.000 casos de possessão demoníaca só na Itália por ano.

Com uma população em torno de 60 milhões, isso significa que o demônio está aparentemente ativo em 1 de cada 120 italianos. São muitos endemoniados e muitos demônios: pelo menos 500.000 deles a não ser que um deles esteja realizando mais de uma possessão.

Por que esse repentino aumento em possessões demoníacas? Palilla atribui esse fato ao aumento nas práticas que “abrem as portas para o Diabo”, tais como pessoas procurando por adivinhos e espíritos, leitores de cartas de tarot, e aqueles que lidam geralmente com magia e ocultismo.

Tudo isso parece ser meio estranho por sair do Vaticano sob o reinado de um aparentemente “moderno” Papa Francisco. Mas, mesmo que o papa seja socialmente progressista, ele é teologicamente conservador (NA: há MUITAS controvérsias sobre esse conservadorismo, mas, continuemos a tradução). O Diabo é uma pessoa real, “armado com poderes sombrios”, declarou ele numa entrevista na televisão em dezembro de 2017.

O Diabo é altamente ecumênico. Não apenas os Católicos os quais aparentemente se tornam possessos. No protestantismo conservador evangélico, particularmente as formas pentecostais, também têm havido pedidos devido à necessidade de “ministérios de libertação” para aqueles que tem se tornado infestados por demônios seja lidando com o Diabo em práticas de ocultismo e magia, ou simplesmente como o resultado do aumento da atividade demoníaca com a chegada do fim do mundo. Como o falecido Billy Graham declarou em julho de 2016: “Satanás não é apenas real, mas ele é muito maior do que somos, tão grande que deveríamos ter muitas razões para teme-lo”.

Uma Tradição Cristã

Ao ver uma vasta gama de práticas ocultistas modernas como demoníacas, Palilla explica sobre a visão da tradição cristã sobre o que são a magia e o ocultismo satânicos voltando lá atrás na época de Santo Agostinho e além. Para Agostinho, até mesmo as mais simples formas de adivinhação, como ler as estrelas, examinar as entranhas de animais, ou observar o voo dos pássaros para dizer o futuro, estavam lidando com o satânico.

Na era de ouro das possessões demoníacas de 1500 a 1700, os exorcistas de multiplicaram. Era difícil dizer, como agora, se o aumento em exorcismos era uma consequência do número de possuídos ou vice-versa. A possessão era sem dúvida muito contagiosa.

Na Europa Católica, dizia-se que freiras de conventos mostravam sinais de possessão. Suas línguas ficavam para fora de suas bocas, balançavam, ficavam pretas e endurecidas; elas se jogavam para trás até suas mãos tocassem seus pés e andavam desse jeito; elas se usavam de expressões tão indecentes que envergonhavam os homens mais safados da época.

Na Inglaterra Protestante, crianças em orfanatos evangélicos estavam aptas para serem “infectadas”. Certamente tanto na Europa Católica como no Puritanismo Inglês, o poder do exorcismo sobre os demônios era uma ferramenta efetiva para demonstrar a verdade do Catolicismo ou Protestantismo respectivamente.

Então, ironicamente, o Demônio serviu aos interesses tanto das igrejas católicas como das protestantes. Católicos e Protestantes modernos parecem dispostos em demostrar suas respectivas verdades religiosas não apenas contra oponentes confessos, mas contra as “forças sombrias” do secularismo também.

Por que o recente crescimento?

Podemos datar o crescimento da possessão demoníaca no ocidente moderno ao início dos anos 70, em particular, a um emblemático momento de 1973 com o filme O Exorcista. Nele o demônio dentro de Regan, uma menina de 12 anos de idade anuncia ao Padre Damien Karras: “Eu sou o Demônio. Agora gentilmente tire essas amarras”. Quando o padre pergunta: “Onde está Regan?”, o demônio responde: “Está aqui conosco”.

Esse foi o início de um reencontro com o demoníaco nos filmes, na televisão, literatura e música, e na cristandade, e dura até os dias de hoje. Ele influenciou o pânico moral sobre o abuso sexual imaginário de crianças nos cultos satânicos. Ele também contribuiu para o aumento (embora não autorizado) de suspeições dentre os cristãos conservadores da influência demoníaca nos movimentos da Nova Era em desenvolvimento, particularmente a bruxaria moderna (Wicca) e o neo-paganismo (espiritismo, esoterismo, umbanda e etc…)

Esse novo crescimento do demônio na cultura popular ocidental é parte de um novo casamento com um mundo de encantamentos. A cultura popular tem abraçado o reino de seres preternaturais bons e maus: vampiros e fadas, bruxas e feiticeiros, lobisomens e gárgulas, metamorfos e super-heróis, succubi e incubi, elfos e alienígenas, hobbits e os habitantes de Hogwarts, sem mencionar os zumbis.

Então agora temos um mundo encantado que existe junto a um desencantado. Ele é um lugar de múltiplos significados onde o sobrenatural ocupa um espaço entre a realidade e a não realidade. Ele é o domínio onde a crença é uma questão de escolha e a descrença e felicidade estão no ar. O horror e a fascinação unem-se entre si de forma feliz.

Nesse novo mundo encantado, o demônio mais uma vez encontrou um lugar. É esse novo reino imaginário que fez ressurgir o medo ao demônio mais uma vez a fim de capturar a imaginação moderna ocidental.

Esse reino redescoberto do sobrenatural tem, como já entenderam o catolicismo e o protestantismo, capacitado o demônio, nas palavras no Novo Testamento, “a estar como um leão ao seu derredor pronto para te devorar”.