O ASTRÔNOMO DO PAPA FALA SOBRE O ESPAÇO, A BÍBLIA E A VIDA ALIENÍGENA
O astrônomo Papal, Guy Consolmagno disse que a maior revelação virá da astronomia, e para ele será “o júbilo de estarmos sob as mesmas estrelas.”
Ciência e religião têm se apresentado como adversários, mas o astrônomo Papal Guy Consolmagno disse que não há necessidade de conflito.
O Irmão Consolmagno disse que enquanto uma leitura literal da Bíblia sugere que o mundo é jovem, a perpetração dessa crença, apesar das evidências científicas serem contrárias, é simplesmente uma “má teologia”.
“É quase uma teologia blasfêmica”, disse ele ao Fairfax Media durante uma visita a Brisbane na quarta-feira.
“Essa certamente não é a tradição do Catolicismo e nunca foi e este não entende o que a Bíblia é e não entende o que é a ciência.”
E é por isso que o Irmão Consolmagno, um condecorado cientista planetário, luta tanto quando perguntam a ele como ele reconcilia sua fé com a ciência.
Para ele, nada precisa ser reconciliado.
“Cresci com as freiras na minha escola de ensinos científicos”, disse o Irmão Consolmagno.
“A ciência é um caminho para se aproximar da criação, de realmente ficar íntimo da criação, e também é um caminho de se tornar íntimo do criador. É um ato de adoração.”
O Irmão Consolmagno, que voltou ao seu país nativo, os EUA, depois de mais de 20 anos no Vaticano, disse que qualquer livro de ciências com mais de 3 anos de idade já está provavelmente ultrapassado.
Então, nesse sentido, a Bíblia não deve ser usada como base de um estudo científico.
“A ciência ficou ultrapassada, e isso é provável de acontecer”, disse o Irmão Consolmagno.
“Agora, se você transformar a Bíblia num livro científico, então você está dizendo que deverá jogá-la fora depois de 3 anos e você não vai querer fazer isso.”
“…O próprio conceito de livro de ciências não existia quando a Bíblia foi escrita, e é isso que a teologia não compreende sobre a Bíblia.”
O Irmão Consolmagno disse que a ciência, assim como a religião, não são literais.
“A procura pelo literalismo, a procura pela verdade absoluta, não faz parte da busca da ciência e não é assunto da religião”, disse ele.
“Se você quer uma grande resposta (sobre a pergunta da reconciliação), minha religião me diz que Deus fez o universo e minha ciência me diz como ele fez isso.”
A caminhada do Irmão Consolmagno até o Observatório do Vaticano foi, em parte, porque ele não se sentia “devidamente preparado” para os deveres regulares de um padre, como o de ajudar as pessoas com seus problemas.
“Sou muito nerd para ser realmente capaz de fazer esse tipo de coisa”, disse ele.
Mas também, grande parte desse caminho, segundo o próprio Irmão Consomagno, foi traçado para o Vaticano “sob obediência” quando ele chegou em 1993.
“Alguém do alto escalão viu meu currículo e disse: ‘você vai para o Vaticano, comer aquela terrível comida italiana, apreciar aquela paisagem chata e, é claro, eles têm uma coleção de 1000 meteoritos’, que era minha especialidade, a qual eu deveria ser curador”, disse ele.
“Então, não fiz nada, pois eu não havia dado entrada pra isso, eu meramente obedeci e hoje faço piada com isso, pois eu realmente queria lecionar. Eu não queria ter ido pra lá, mas acabou se transformando na melhor coisa que já fiz.”.
O Irmão Consolmagno disse que o moderno Observatório do Vaticano, o qual foi construído pelo Papa Leão XIII em 1891, era menor do que os outros estabelecimentos de pesquisa nos quais ele trabalhara, como os Institutos de Tecnologia de Harvard e Massachusetts. Mas tinha suas vantagens.
“Diferente dos outros caras no meu campo, eu não tinha que pedir dinheiro a cada três anos de um apoiador externo como a Agência Espacial Européia ou a NASA”, disse o Irmão Consolmagno.
“Tenho a liberdade de perseguir um objetivo por um longo tempo e esse tipo de trabalho tende a ser uma pesquisa que leva muito tempo, ou seja, coisas que levam de 10 a 20 anos para darem resultados.”
Um exemplo disso é um projeto que mede as propriedades físicas de mais de 1000 meteoritos. “Leva-se um ou dois dias para fazer as medidas e são mais de 1000 meteoritos e, assim sendo, levamos muito tempo para completarmos um ciclo em todos eles”, disse ele.
“E então, uma vez que configuramos as técnicas, podemos levar essas técnicas até as outras coleções. Começamos a fazer isso em 1996 e terminamos a parte mais pesada a alguns anos atrás, logo, isso levou quase 20 anos.”
Mesmo sua especialidade sendo as pedras do espaço, a ideia de vida extraterrestre tem sido de imenso interesse do Irmão Consolmagno, que já escreveu extensivamente sobre o assunto. Um livro onde ele é coautor chamado de Would You Baptize an Extraterrestrial? (Você Deveria Batizar um Extraterrestre?) …and Other Questions from the Astronomers In-box at the Vatican Observatory (Outras Perguntas dos Astrônomos da Caixa do Observatório do Vaticano), que foi lançado no início desse mês.
“A ideia de que os seres humanos são o centro do universo é uma ideia empolgante, uma ideia humanista. Isso é Voltaire e não Cristianismo”, disse o Irmão Consolmagno. “O universo na Idade Média era cheio de todos os tipos de criaturas não-humanas. Eles pensavam que a inteligência planetária movia os planetas e certamente eles tinham muitas histórias de anjos e a ideia da queda de anjos, que pode ser uma classe completa de criaturas diferentes dos seres humanos e ainda assim mantendo um relacionamento com Deus. Independente de tomar isso de forma literal ou simbólica, não importa o argumento. Eu nunca me preocupei com as pessas daquela época.”
Então como a descoberta de uma civilização alienígena se encaixa com a teologia moderna?
Muito bem, disse o Irmão Consolmagno, “Antes (do contato), o que estamos fazendo não é falar sobre extraterrestres, mas falar sobre nós. E isso não é algo ruim”, disse ele. “É maravilhoso ler sobre ficção científica e sonhar todos os dias sobre isso e o que significa tudo isso sem dizer ‘eu tenho a resposta’. “O que é a morte para a ciência, o que é a morte para a teologia, é o mesmo que dizer ‘eu tenho a resposta’. Não. Eu tenho uma pergunta interessante, e é muito boa de se divertir com ela.”
De volta à Terra, o Irmão Consolmagno disse que a grande revelação que virá da astronomia, para ele, seria a “alegria de todos nós vivermos sob as mesmas estrelas.” “É algo que realmente, no fim dos dias, nos unirá todos.” disse ele.
“Posso ter amigos astrônomos que são Muçulmanos, posso ter amigos astrônomos que são ateus, e posso ter amigos astrônomos que são (Deus me perdoe), os outros tipos de Católicos diferentes de mim…Podemos todos nós olharmos as estrelas e compartilhá-las uns com os outros.”
Segundo sua palestra na Assembléia de Profissionais Católicos em Brisbane na terça-feira, o Irmão Consolmagno apresentará uma palestra pública gratuita na Universidade de Tecnologia de Queensland, no Kindler Theatre no Gardens Point às 15h30 na sexta-feira.
Então os seus olhos se voltaram para o céu.
“Dou uma olhada na fase da lua, percebo que a lua nova é na próxima semana e sinto que seria uma hora ideal para ir ao retiro Jesuíta na casa dos Sete Montes, fora de Adelaide, para fazer meu retiro anual, sob os escuros céus do sul.” disse o Irmão Consolmagno.
“Os céus aqui na Austrália são espetaculares e eu não consigo vê-los com frequencia suficiente.”